quarta-feira, 9 de junho de 2010

Entrevista com Angus Donald

Bom, creio que todos já devem estar sabendo do baladadíssimo Robin Hood, talvez seja pela grandiosa produção cinematográfica que está a esta altura rodando em todo o mundo. Mas pode ter certeza que não foi por essa razão que Angus Donald resolveu criar uma série que trata entre outros de um dos maiores mitos - ou não - da história. Alguém que batia de frente ao governo, alguém que roubava aos ricos para dar aos pobres. Foram essas bases mitológicas que inspiraram Angus Donald a descrever de modo mais real Robin Hood. Ingredientes bastardos para fazer de Fora da Lei um grande livro, e foi isso que ele fez.



 "Após ser pego roubando, o jovem Alan Dale se vê obrigado a deixar sua família para viver sob a proteção dos fora da lei da Floresta de Sherwood, liderados pelo lendário guerreiro Robin Hood. Lealdade, poder e vingança estão em jogo neste suspense em que o herói também pode ser vilão."

Angus Donald nasceu na China em 1965, e estudou na Universidade de Edimburgo, na Escócia. Antes de se tornar escritor, trabalhou como coletor de frutas na Grécia, garçom em Nova York e, como antropólogo, participou de uma pesquisa sobre bruxaria na Indonésia. Há 15 anos atua como jornalista em Hong Kong, Índia, Afeganistão e Inglaterra. E é com este extraordinario que o blog Tudo em Livros inaugura a sessão Entrevista. Segue abaixo a entrevista com Angus Donald, autor de Fora da Lei:

Tudo em Livros 1) Em primeiro lugar, sr. Donald, gostaria de agradecer por conceder esta entrevista para nosso blog. Para começar gostaria de saber como você se sente vendo seus livros sendo publicados ao redor do mundo acima de tudo sobre o lançamento de Fora da Lei no Brasil?

Angus - É uma sensação maravilhosa. E muito surpreendente — tinha apenas a expectativa de vender alguns exemplares no Reino Unido, mas ao descobrir que eles estão sendo lidos no Brasil e em outros lugares no mundo inteiro tenho uma sensação extraordinária. Mas então eu acho que Robin Hood é uma figura internacional: as coisas que ele representa — a coragem do indivíduo contra o poder do Estado, a diferença que um único homem pode fazer — são universais.

Tudo em Livros 2) Fora da Lei é um título no mínimo sugestivo, ainda mais pelo livro tratar de um Robin Hood "mais real." O que você nos diz?

Angus - Eu acho que nunca vamos descobrir o verdadeiro Robin Hood, embora historiadores têm tentado isso por séculos. Há algumas referências do século 13 em registros legais na Inglaterra, para um "Robhode" e um "Robyn Hod" até mesmo um "Robert Hood" e outras figuras que poderiam ser o homem original, mas eu acho que nós nunca vamos saber quem ele realmente era. Mesmo se nós o encontrarmos, não iríamos reconhecer o herói que conhecemos hoje, e eu suspeito que ele teria sido uma figura muito obscura, assassina: bandidos medieval não eram conhecidos por sua bondade. Então, eu imaginei que o meu Robin como uma espécie de gângster — violento, capaz de grande crueldade, mas também com um código de honra, e um homem decente para seus próprios padrões. Acho que o meu Robin está mais próximo do homem real do que qualquer outro que eu já ouvi falar nele, li ou viu em filmes. Eu adoraria ouvir o que pensam os seus leitores sobre o retrato que fiz dele em Fora da Lei e nos outros livros.


Tudo em Livros 3) Holy Warrior — que será lançado em agosto — é a continuação de Fora da Lei, você vê essa história como uma trilogia ou como uma série maior, contando com mais livros? Qual é o seu atual planejamento? 

Angus - O segundo livro da série, Holy Warrior (Guerreiro Sagrado,em tradução livre) será publicado no Reino Unido em julho. Eu estou receoso já que não sei quando (ou se ele) será publicado no Brasil. Esperemos que no próximo ano, se não mais cedo, mas a editora brasileira não comprou os direitos de publicação ainda. Estou planejando escrever, pelo menos, cinco livros de Robin Hood, mas eu poderia escrever mais, talvez até oito ou dez episódios, se eu sentir que há uma demanda para eles por parte do público. No momento, estou no meio da escrita de Man King (O Homem Do Rei, em tradução livre) que será publicado no Reino Unido no próximo ano (em Julho 2011). O plano é para eu escrever um livro por ano de acordo com previsto.


Tudo em Livros 4) Fora da Lei está sendo lançado aqui no Brasil ao mesmo momento que uma superprodução dirigida Ridley Scott, você acha que comparações são inevitáveis? Você assistiu ao filme?

Angus - Tenho que admitir que fiquei um pouco decepcionado com o filme Robin Hood. Talvez as minhas expectativas eram muito altas — eu fiquei esperando dois anos desde que ouvi pela primeira vez sobre o filme — mas eu achei que a história não faz muito sentido. Robin chega em casa vindo das Cruzadas, é imediatamente adotado por um cavaleiro rico, comete um assalto e, de repente se torna o líder de guerra de todo o país. Não fez sentido para mim. Também houve algumas anomalias históricas estranhas no filme que eu não gostei: por exemplo, na batalha final, o rei francês parecia estar invadindo as praias da Inglaterra, um fato equivalente à Segunda Guerra Mundial. Houve uma cena um pouco parecida com a cena de abertura de O Resgate do Soldado Ryan, exceto que utilizavam arcos e flechas em vez de metralhadoras. Tenho que dizer: eu não achei o filme ruim. Eu apreciei as cenas de luta, foi visualmente impressionante, fazendo com que minha velha e querida Inglaterra parecesse muito verde e linda, e eu pensei que Cate Blanchett foi excelente como Marion.

Tudo em Livros 5) A sua forma de seu pesquisa histórica foi comparada com a do consagrado Bernard Cornwell assim como com a lingüística utilizada por Christian Jacq, você se baseou na maneira deles de trabalhar, ou estas coincidências acontecem no decorrer do trabalho?

Angus -Temo por não lido nada de Christian Jacq, mas eu sou um grande fã de Bernard Cornwell, eu li quase todos os seus romances. Eu tomei, conscientemente, os romances de Cornwell como modelo quando estava escrevendo Fora da Lei. De fato, como Bernard Cornwell escreveu no Artists and Writers Year Book 2007, quando ele estava começando, ele estudou vários outros romancistas muito profundamente também. Bernard Cornwell escreveu algo como: "Se você fosse construir uma ratoeira melhor, você olharia para as ratoeiras existentes, desmontá-las-ia e veria como elas funcionam, e tentaria fazer melhor, que é o que eu fiz quando eu estava começando a escrever romances, eu tomei partido de outros livros e vi como eles funcionavam." Eu fiz algo semelhante com a obra de Bernard Cornwell, quando eu estava escrevendo Fora da Lei. Na verdade, há uma mensagem secreta em Fora da Lei ao Bernard Cornwell — uma espécie de piada inserida no meio do livro. Eu me pergunto se os leitores no Brasil poderam descobrir a referência ao tatara, tatara, tatara... tataravô de Cornwell.

Tudo em Livros - 6) Um livro que envolve um personagem histórico — ou mesmo uma lenda histórica —  envolve muitos anos de pesquisa, quanto tempo o senhor levou para publicar o primeiro livro e quanto tempo espera levar para publicar as seqüências?

Angus - Passei um longo tempo, cerca de sete anos, pesquisando Robin Hood e esse período da história Inglesa. Comecei a pensar sobre o livro em 2002, e na época eu estava trabalhando como jornalista em tempo parcial e eu tinha bastante tempo livre em mãos, então eu costumava visitar a British Library, em Londres, e ficava horas por dia lendo. Então eu consegui um emprego em tempo integral no jornal The Times e por isso passei a trabalhar no livro nos fins de semana, mas eu continuei a ler muito sobre o assunto, e quanto mais eu lia mais interessante o assunto ficava. Em Holy Warrior, Robin, Alan e todos os bandidos vão para a Terra Santa e eu gostei particularmente de pesquisar a Terceira Cruzada para esse livro. Hoje com modernos aviões, onde viajar de Londres para, digamos, o Rio é relativamente simples, é difícil para nós a imaginar quão longe a Terra Santa era para pessoas que viviam na Europa Ocidental. Era o fim do mundo. E só uma percentagem muito pequena daqueles que partiram nessa jornada longa e difícil conseguiu voltar para casa novamente. A Terceira Cruzada é uma história extraordinária, e, uma vez que eu tinha feito todas as pesquisas na biblioteca, fez com que escrever Holy Warrior fosse muito prazeroso — também foi muito mais fácil do que escrever Fora da Lei, só levei um ano, ao invés de sete anos. A diferença era que eu já tinha terminado todas as pesquisas, e eu já sabia quem eram os personagens, e por isso foi um simples trabalho. Eu estou tendo que fazer muito mais pesquisas para Man King, em que Alan vai para a Alemanha, mas isso é metade do divertimento de ser um escritor. Você nunca se cansa!
Agradeço pela entrevista.

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