quinta-feira, 12 de agosto de 2010


Despois da resenha de Relações de Sangue (leia aqui) trago uma super entrevista com a querida Martha Argel, autora deste romance tão must read.

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1.      Olá, Martha, primeiramente agradeço sua disponibilidade em dar essa entrevista ao Tudo em Livros, ficamos muito felizes! Gostaria de começar perguntando o que você acha que Maria Clara tem da sua personalidade — além das similaridades curriculares como ser formada em Biologia e trabalhar com traduções?
Acho que a principal característica que a Clara e eu compartilhamos é o senso de humor; quem convive comigo sabe que o tempo todo vejo aspectos curiosos e inesperados nas mais variadas situações. Mas suponho que não seja só isso que compartilhamos. Numa narrativa em primeira pessoa, como é o caso desse romance, é muito difícil o autor não transferir muita coisa de si ao personagem narrador. Não sei, de fato, o que mais ela tem de mim. Um detalhe curioso: quando criei a Clara, onze anos atrás, eu nem sonhava em trabalhar com traduções. Eu tinha, sim, largado para trás uma carreira docente, mas bem mais curta que a dela, e voltada para o ensino universitário, e não para adolescentes. Aliás, eu ainda tinha contato com alguns ex-alunos quando publiquei o livro, e eles viam meu alter-ego na vampira Lucila, e não na humana Clara. Sempre achei isso meio perturbador para minha autoimagem como professora...
 
2.      Os vampiros entram na vida de Clara ocupando seu espaço sem ao menos se certificar se o que estão fazendo não está incomodando-a. Você acha que a relação de Lucila e Clara trata-se de amizade ou é uma relação de interesses — um relação de sangue?
Bom, essa é uma das questões que continuam a ser exploradas no próximo livro, Amores Perigosos.

3. No inicio do livro Lucila vai à casa de Clara e comenta sobre um romance que ela está lendo que fala de vampiros, homens que se transformam em felinos e ratazanas gigantes. Essa descrição me remete a uma série de uma autora estadunidense que prestigio, essa descrição é aleatória ou é de um romance parecido que você já leu?
Você é a primeira pessoa que comenta esse trecho. De fato, essa é uma referência explícita à série Anita Blake, da escritora estadunidense Laurell K. Hamilton.  Na época em que comecei a ler sobre vampiros, mais ou menos em 1997, garimpei na Amazon os livros vampíricos de maior sucesso entre os leitores, e cheguei a três autoras: Tanya Huff, P. N. Elrod e Laurell K. Hamilton. Em breve, minha favorita absoluta passou a ser a Huff, pois me identifico com seu estilo e seu humor refinado e preciso. Mas foi através de Elrod e Hamilton que tive contato, em segunda mão, com a literatura noir e hard boiled, e passei ler Dashiell Hammett e Raymond Chandler. Além disso, com o primeiro livro da Hamilton percebi que ali estava uma voz narrativa que eu poderia usar: uma narração em primeira pessoa, por uma mulher jovem irônica e razoavelmente segura de si. Mas toda essa pesquisa era puramente teórica. Eu não tinha planos de escrever um romance, estava apenas investigando técnicas possíveis e estruturas narrativas. Em 1999, escrevi um conto em que essa voz narrativa se encaixava. Acabei me apaixonando pelos personagens, e comecei a escrever um segundo conto com eles. Só que não foi um conto, foi meu primeiro romance vampírico, o próprio Relações de Sangue.  Eu vinha ensaiando escrever ficção longa fazia já vários anos, mas acho que só encontrei o tom que queria ao ler Hamilton, e foi isso que me permitiu ir em frente até o fim. Daí a homenagem.

4.  Além dos vampiros há outros seres no universo de Relações de Sangue? Trata-se de um universo extremamente hostil que trará mais dor e perigo para a querida Clarinha?
Não, não vão aparecer outros seres sobrenaturais na vida da Clarinha.  Desde que delineei todo o arco da história, o planejado era manter o foco nos vampiros, e assim vai ser. Mas eles por si só já criam problemas suficientes para a coitada!
Agora, no universo de O Vampiro da Mata Atlântica (Idea, 2009) qualquer coisa pode acontecer! Os leitores já me pediram histórias sobre o lobisomem dos Pampas, o fantasma do Cerrado, o mapinguari da Amazônia e coisas assim... Ainda estou pensando.

5.      Ao ler Relações de Sangue nos deleitamos com uma prosa ágil e bem estruturada que faz a gente ficar preso ao livro não querendo largá-lo sem ler até o último capítulo. Escrever o romance foi igualmente ágil e excitante ou houve percalços nos decorrer da escrita? Como foi recolocá-lo no mercado?
Que bom que a leitura o “fisgou”! A agilidade e a velocidade da narrativa são características do hard boiled que tentei incorporar ao romance, e a julgar pela reação de muitos leitores, parecida com a sua, acho que tive algum sucesso.
Não sei se eu chamaria de “excitante” o processo de escrita do Relações. Demorei relativamente pouco tempo para produzir a primeira versão, cerca de meio ano, mas foram meses de trabalho obsessivo e detalhista. Fico muito nervosa enquanto escrevo. Eu me divirto quando acho algum trecho ficou legal, mas só depois de escrevê-lo. Enquanto ainda estou redigindo, fico angustiada. Houve um percalço, sim, quando eu estava mais ou menos na altura do capítulo seis; até então eu achava que aquilo era apenas um conto longo demais. Quando me dei conta de que era na verdade um romance, entrei em pânico, abandonei tudo e achei que nunca terminaria. Isso durou um bom tempo, talvez semanas. Mas tomei coragem, retomei o trabalho e consegui terminar.

6.      Você tem alguma previsão para o lançamento da continuação de Relações de Sangue? Pode adiantar algo sobre ele?
A Giz Editorial confirmou que tem interesse em publicar Amores Perigosos, só não sei se vai ser ainda neste ano ou no ano que vem. Vai depender do desempenho das vendas de Relações de Sangue.
Em Amores Perigosos, a Maria Clara mete o nariz onde não é chamada e com isso vai arranjar uma encrenca sem tamanho — com vampiros, é claro! O comecinho do livro está disponível em meu site. Amores Perigosos é bem mais longo que o Relações, e com isso posso trabalhar um número maior de personagens. Alguns personagens do Relações voltam à cena, e personagens que já apareceram em contos meus vão ter papéis de grande importância. Fora isso, não posso dizer mais nada, porque qualquer coisa que eu disser vai ser spoiler!

7.      Através da internet percebemos que você tem uma ótima relação com seus fãs. Como você se sente em relação a esse carinho?
Cada e-mail e comentário que recebo é especial, e me faz ver a responsabilidade que tenho, por ter deixado uma impressão, por mais breve que fosse, na vida daquela pessoa. Sempre tento me colocar no lugar de quem me escreve, e me imagino enviando uma mensagem para algum escritor de quem gosto, esperando ansiosa pela resposta; não é algo difícil de imaginar, pois na verdade já fiz isso, e guardo as respostas deles como tesouros. Por isso sei o quanto é importante tentar retribuir da melhor forma possível a atenção de cada leitor, embora nem sempre consiga, em especial por falta de tempo.

8.      Vi que Relações de Sangue foi revisado por Giulia Moon, assim como você fez com o romance dela, Kaori — Perfume de vampira. Vocês são amigas, não é? Viver em um entorno de escritores (seu marido, Humberto Moura Neto, é organizador de antologias e também tradutor) ajuda no processo de escrita?
Conheci Giulia Moon em 2001, quando decidi procurar alguém que escrevesse bem e com quem pudesse trocar ideias e experiências. Na época, entrei em um grupo de discussão sobre contos vampíricos, o TintaRubra. Logo de cara notei que aquela moça de nome diferente era ótima escritora, comecei a me corresponder em pvt com ela, e de imediato se estabeleceu nossa parceria literária, que dura firme e forte até hoje.
A convivência com outros bons escritores é muito estimulante intelectualmente. É bom contar com pessoas próximas a quem pedir sugestões e ajuda, e que vão fazer uma leitura crítica e rigorosa do material antes da publicação. Mas também devo muito a minhas leitoras-beta, principalmente a Mônica de Azevedo, que trabalhou comigo à exaustão no Relações e nos demais livros.

9.  Qual a sua relação com os livros que você traduz? Você acha que ter seu nome ligado à tradução de títulos de sucesso — como Noite Eterna, e o futuro lançamento de Richelle Mead — chega a trazer leitores para seus próprios livros e vice-versa?
Gosto muito de fazer traduções literárias. Antes de traduzir para a Planeta, traduzi, junto com o Humberto, vários contos de vampiros do século dezenove, para nosso livro O Vampiro Antes de Drácula (Aleph, 2008). Entre outros autores que traduzi estão Edgar Allan Poe, H. G. Wells e Alexandre Dumas. Minha atuação nessa área é profissional; tendo tempo para fazer o trabalho, aceito traduzir o que a editora tiver a oferecer. Se bem que o pessoal da Planeta é muito legal nesse ponto, e até o momento, a maioria dos trabalhos que a editora me encomendou tem a ver com literatura fantástica. Não sei se está havendo um intercâmbio de leitores entre meus livros e os livros que traduzo; algum deve haver, mas não sei qual a magnitude.

Gostaria de agradecer em nome de todos do Tudo em Livros. Desejo a você muito sucesso e deixo um espaço pra você deixar um recado aos seu leitores aqui.
 Maicon (Vollzin), eu é que agradeço demais sua atenção e este espaço que você abriu em seu blog para a divulgação de meu trabalho. Dou-lhe os parabéns por sua atuação na divulgação da literatura fantástica nacional. E o recado que tenho para os leitores é: façam suas vidas valerem a pena, não só para você, mas também para as outras pessoas


Para saber mais sobre Martha Argel acesse:



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